segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A Resposta é o Amor


“Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á.” Mateus 10.39

Ao me deparar diante dos Mistérios do Sagrado sempre algo novo me chama atenção, já li algumas vezes os Evangelhos, mas nunca tinha me deparado com a verdade de palavras tão desafiadoras “Quem achar a sua vida perdê-la-á” ? O que Cristo quer realmente dizer com isso? Ao ler o contexto do texto o que vemos é a grande comissão dos discípulos, a missão dos doze, o Enviado que envia. Jesus envia os doze discípulos primeiramente as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10.5,6). O Mestre dá instruções não somente da missão que eles deveriam realizar naquele momento, mas dá instruções de qual caminho tomar, de como lidar com as pessoas, Jesus diz: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas.” (vv16). Os fariseus e grande parte do povo Judeu eram hostis ao Cristo. Seus ensinamentos estavam indo contra a ortodoxia judaica que privilegiava algumas pessoas, estava balançando o mundo, restaurando a dignidade de pobres miseráveis, leprosos, paralíticos mendicantes, prostitutas arrependidas, e assim Jesus ia trazendo um mensagem do céu; que quando ninguém se importa Deus se importa, que quando não há saída Deus abre a porta, e quando não há dignidade alguma Deus a dá no gesto glorioso e gracioso do perdão que sempre precede o arrependimento. Nos arrependemos porque fomos perdoados. Na lógica da graça as coisas são ao contrário. Não escolhemos Deus, Ele nos escolhe em Cristo; “ Nós o amamos a ele, porque ele nos amou primeiro.” (1João 4.19).

O que vemos nas palavras desafiadoras de Cristo? Qual o sentido e o real significado de achar a sua vida? Simples é mais prudente, é mais sábio, não “sair de casa”! Ficar no anonimato não seguir Jesus era a opção daqueles que temiam os fariseus e o povo; daqueles que temiam a dura ortodoxia que fazia de Deus um ser empedernido!

O problema é que qualquer pessoa que fizesse isso que “escondesse” sua vida com medo das represálias estaria na verdade tocando ela no buraco, estaria desperdiçando sua vida em prol de uma teologia sem vida, sem o objeto de sua busca o próprio Deus! O sistema religioso judaico era frio! E os sinais? Haviam. Sinais em abundancia, os sinais dos sacrifícios, o sinais “eternos de eternas festas” (Isaias 1.12-14), mas eles haviam esquecido o propósito, o anúncio por traz de cada sinal do seu culto. Isaias fala deste glorioso anuncia ao dizer profeticamente: Vinde, então, e argui-me, diz o Senhor: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a branca lã.” (Isaias 1.18). Deus convida o povo a questiona-la “Vinde e arguir-me”, Deus convida o povo a interroga-lo “Vinde e arguir-me” e Deus convida o povo a examinar “Vinde e arguir-me”! Que por um ato soberano de bondade Ele faria os pecados se tornarem brancos, puros como a neve, Ele daria vida abundante. O que vemos nessa promessa? Um Deus que se relaciona, que diz o que o homem deve escolher: Aprendei a fazer bem; praticai o que é recto; ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas.” (Isaias 1.17); e permite que homem faça uma pergunta, questione o que Deus tem em mente “Vinde e arguir-me”. E a resposta que Deus dá é a resposta mais bela que alguém pode ouvir. Pecados perdoados, mundo reconciliado, salvação através de um Deus que se torna homem e morre no calvário! O sublime sinal de Deus e resposta aos homens é a Cruz. O Deus que desce até a morte para salvar. Essa salvação requer perder a vida, se entregar com todas, as forças com todas as energias, se lançar no escuro tendo pela fé a convicção que os braços de Deus vai nós apanhar! Contudo o perder a vida por Cristo se consiste no encontrar da VIDA. Uma das primeiras coisas que ocorrem com quem “perde a vida” e sair do anonimato e não se conformar com “ordotoxias” que tentam prender Deus ou a sinais miraculosos ou a letra morta de convicções meramente humanas. Jesus ensina que Deus Pai é o Pai que faz novo todas as coisas, que transforma, que age criativamente, que toca, que ama, que cura e faz milagres, mas também se esconde e sente tal agonia e medo ao ponto de chorar. Um Deus que se faz homem e sabe o que os homens sentem. Um Deus que bebe vinho e abençoa com mais vinho um casamento, um Deus que não tem onde recostar a cabeça, mas tira o peso da ansiedade dos discípulos dizendo pra eles observarem os pássaros. Um Deus que perdoa pecados de um paralítico que ousa quebrar as regras “ortodoxas” da guarda do sábado, um Deus que na verdade coloco as coisas no lugar certo dizendo: E disse-lhes: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado. Assim, o Filho do homem até do sábado é Senhor.” (Marcos 2. 27,28). Um Deus que “quebra regras e extrapola” curando em Betesda enquanto a multidão se aperta no Templo. Quem perder sua vida na verdade encontra outra vida, a vida abundante dada por Cristo. Uma vida de aprendizagem, uma vida de superação, e uma vida de santificação através da obra do Espírito. Santificação como “aurora”, uma vida de serviço de amor ao próximo, uma vida cuidando e amando os órfãos as viúvas e a todos que não tem com quem contar! Perder a vida é encontrar uma nova vida, é saber que muitos vão tacha-lo de muitas coisas, de heterodoxo”, “liberal”, “desviado”, “incrédulo”, “herege”; é saber que você pode ser perseguido ao dizer que Deus morreu na Cruz pra salvar o mundo e não por muitos, mas por todos.

Você pode citar textos como: “ Porque Deus amou o mundo, de tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” (João 3.16). Que citaram textos como: E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente é o Filho do homem; O campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino e o joio são os filhos do maligno; o inimigo, que o semeou, é o diabo; a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos.” (Mateus 13. 37-39). E com textos assim vão refutar seus argumentos dizendo que o campo é o mundo e no mundo existem dois tipos de pessoas joio e trigo com dois finais diferentes. Você poderá argumentar que o campo é formado por terra e não por joio ou trigo. O joio ou o trigo é o resultado do plantio das sementes ou das “influências” destas. Você poderá citar a parábola dos solos (Semeador) e dizer: Eis que o semeador saiu a semear. e, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves, e comeram-na; e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda; mas, vindo o sol, queimou-se, e secou-se, porque não tinha raiz. E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, e sufocaram-na. E outra caiu em boa terra, e deu fruto: um a cem, outro a sessenta, e outro a trinta. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mateus 13.3-9). E desenvolver um belíssimo argumento a respeito dos solos desse campo onde esse semeador estava semeando. Havia pedregais, que são corações impermeáveis a ação da palavra (Semente), havia terra nesse campo cheia de espinhos que cresceram e sufocaram a semente e havia boa terra que é coração aberto a ação da palavra onde produz fruto e esse fruto se reproduz. Em suma você ao “perder” e encontrar sua vida na abundante vida do Cristo, vai logo perceber que discutir sobre teologia é uma roda da água sem água, que gira em milhões de argumentos, mas não produz nada além de atrito seco! Você vai perceber que é um absurdo pensar que os discípulos faziam ginásticas como as de cima para tentar entender os ensinamentos de Cristo. Que é bem simples, é o amor: “ Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.” João 13. 34. Deus não age dentro de lógicas humanas! Por que Deus é amor e amor é o sentimento mais ilógico que existe, basta olhar na fila do presídio as pobres mães que vão visitar seu filhos!

“Quem achar a sua vida perdê-la-á” , mas quem a perder por amor encontrará uma nova maneira de viver construindo o reino de Deus entre os homens. E tendo apenas uma resposta a dar a quem ousar interpelar. A resposta é o amor!


Guilherme Costa

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