
Aos toques do címbalo, aos barulhos da flauta,
aos gritos da noite, ao tormento da foice.
Ouvisse uma canção, triste melodia canta
um serão em mórbida agonia!
A chibata atormenta sua fronte alva, ela não
lhe corta a carne, mas lhe rasga a’lma em covardia.
Os letreiros anunciam os encantos de madame
Sofia. Lança-se no bordel o devasso de alma fria!
Sua amada lhe esperava na baía com sua pele branca
pura e macia, mas o boêmio se afundava em volúpia vazia.
Acabou tudo para o infame e para aquela alva menina que se
esconde em vagas de fantasias, em covas na baía!
A escuma do mar, o serro que rasga os pés da donzela
que canta a lua sua triste vida efêmera na praia escura.
É a escuma que molha as formas cândidas da menina e
leva seu coração lançando-o em um val de solidão!
Durante a noite na taverna ele cultua Baco, em sua forma
nua beija os pés da meretriz. Esfrega-se naquela carne suja.
Nas ruas escuras aplaude a lua e corre a sua donzela para lhe
pedir desculpas, porém é rejeitado por suas formas puras!
Traz a tona o pobre poeta de alma aberta que vaga sem
ventura em sofrimento confuso, jogado em abismo escuro.
Eis que a noite horrenda traz consigo enlevo indolente, ferida
aberta na fronte do homem que se joga as pés da menina bela.
O cortejo de demônios que vagam na boemia negra de vidas
vazias se curva aos ombros dela. E sussurra aos ouvidos da bela
solene canto de morte. O que fazes donzela? Por que choras na praia?
Seu punhal feriu o boêmio que morreu sussurrando o nome dela. Embebia
seu próprio sangue o poeta moribundo que traiu sua menina bela.
As mãos macias da donzela que ele amava foram às mesmas que o ferirá
rasgando a carne sórdida do homem que mentia.
Em desespero profundo a menina que não sabia o que fazia adentra no mar
até cobrir sua carne pura. Morre a donzela alvacenta coberta pela escuma!
Guilherme Costa

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