segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Noite de Boemia

Aos toques do címbalo, aos barulhos da flauta,

aos gritos da noite, ao tormento da foice.

Ouvisse uma canção, triste melodia canta

um serão em mórbida agonia!

A chibata atormenta sua fronte alva, ela não

lhe corta a carne, mas lhe rasga a’lma em covardia.

Os letreiros anunciam os encantos de madame

Sofia. Lança-se no bordel o devasso de alma fria!

Sua amada lhe esperava na baía com sua pele branca

pura e macia, mas o boêmio se afundava em volúpia vazia.

Acabou tudo para o infame e para aquela alva menina que se

esconde em vagas de fantasias, em covas na baía!

A escuma do mar, o serro que rasga os pés da donzela

que canta a lua sua triste vida efêmera na praia escura.

É a escuma que molha as formas cândidas da menina e

leva seu coração lançando-o em um val de solidão!

Durante a noite na taverna ele cultua Baco, em sua forma

nua beija os pés da meretriz. Esfrega-se naquela carne suja.

Nas ruas escuras aplaude a lua e corre a sua donzela para lhe

pedir desculpas, porém é rejeitado por suas formas puras!

Traz a tona o pobre poeta de alma aberta que vaga sem

ventura em sofrimento confuso, jogado em abismo escuro.

Eis que a noite horrenda traz consigo enlevo indolente, ferida

aberta na fronte do homem que se joga as pés da menina bela.

O cortejo de demônios que vagam na boemia negra de vidas

vazias se curva aos ombros dela. E sussurra aos ouvidos da bela

solene canto de morte. O que fazes donzela? Por que choras na praia?

Seu punhal feriu o boêmio que morreu sussurrando o nome dela. Embebia

seu próprio sangue o poeta moribundo que traiu sua menina bela.

As mãos macias da donzela que ele amava foram às mesmas que o ferirá

rasgando a carne sórdida do homem que mentia.

Em desespero profundo a menina que não sabia o que fazia adentra no mar

até cobrir sua carne pura. Morre a donzela alvacenta coberta pela escuma!


Guilherme Costa

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