
Meu coração já não é mais o mesmo, meu caminhar
se perde por trilhas que eu não consigo alcançar.
Na minha mente corre um rio de duvidas e os meus
sonhos tornaram-se inalcançáveis. Os seus fragmentos
flutuam pelo o ar rarefeito de meus pesadelos.
Minha zona de conforto e as muletas que por muito tempo
segurei, se partiram em pedaços e só com a essência fiquei.
Existem mais perguntas que respostas e depois de tanto
tempo continuamos os mesmo; meros ícones quebrados,
discos arranhados de vinil, pássaros no emaranhado de finas
teias, lutando para não virar a presa de um aracnídeo vil.
No alto da colina onde antes havia uma cruz, uma velha e
negra cruz, hoje esta repleta de figuras geométricas, de
mapas e escalas, de regras e normas, de certezas
absolutizadas, de ausência e de graças vazias.
Você me viu passar tão cabisbaixo, mas estava ocupada
demais com os anéis dos seus dedos, com metais
sem calor, com seu umbigo e seu desamor. E eu segui
minha sina por entre percalços, se eu cair vou me arrastar
por essa lama suja, por esta estrada moribunda.
Não sobrou nada do que enfeitava a minha fé, nada das
velhas muletas, porém ainda ouço os gritos e alaridos
dos exatos matemáticos da “Santa Sé”.
Eu me vi partindo, correndo para lugar nenhum na
minha infância adormecida. Meus cabelos compridos
e com longos cachos, meu moletom azul marinho com
o rosto de um urso bordado, minha calça de abrigo
preta com um listra branca e vermelha meus pés descalços.
Meus dedos encardidos de brincar na terra, no “húmus” da
minha humildade, por estar em contato direto com ela.
Continuo correndo em minha velha infância, me vejo menino
partindo para cada vez mais longe do que sou agora.
Soluço lágrimas de desencanto, me frustrei com a verdade
que me apresentaram, com os dogmas que tolamente obedeci.
Quando vi que despojaram a velha cruz da montanha, colocando
no seu lugar um ícone vazio; abri mão de tudo que me ensinaram!
Na minha infância meus sonhos era o berço no qual descansava
meu futuro, mas quando o vi chegar nem me dei conta que fui
me perdendo na caminhada, me quebrando como um pedaço de giz.
Chegando a velha estrada, a única que sobrou, a estrada
assombrada da essência tão pequena da minha alma maltratada.
Continuei meu caminho em busca de um novo destino, carregando
no alforje um pedaço pequeno de esperança, um fardo pesado
de decepção e um pouco de fé no meu velho coração.
Dos meus ideais restou apenas a fé na velha cruz do topo da
colina; que vi algumas vezes de relance quando estava em
agonia. Confesso tentei devolve-la, desistir da fé, a deixar partir,
mas quem me deu não aceita devoluções, por isso guardei ela.
Estou de mãos vazias, perdi alguns “amigos” que não conseguem
amar quem não reza em sua cartilha. Não quero ir sozinho por isso
te convido para ires comigo. Mas se não quiseres caminhar ao
meu lado nesta loucura do andar, vou entender e continuarei minha
sina, alimentando enleios, ora desejando a morte, ora lutando para viver!
Espero chegar ao fim desta estrada ainda que o nada eu venha encontrar.
Guilherme Costa

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